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Edilson Costa dos Anjos

Graduado e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro-RJ  (UERJ), com habilitação em Sociologia; pós-graduando em Docência da Educação Básica pelo Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG).


1. A evolução dos Modelos Mentais

O professor Antonio Tarciso Borges, da UFMG, sugere uma escala de evoluções dos Modelos Mentais, organizando-a por nível de prolixidade e estabelecendo o mecanismo que define uma sequência de progressão no estado de conhecimento do sujeito aprendente:

  1. a integração do conhecimento anterior ao novo (conceito de subsunçor de Ausubel);
  2. a construção de novas estruturas baseadas na relação entre os objetos e as suas transformações possíveis (distintas formas de ver, compreender e interpretar os conteúdos, levando-se em conta os conhecimentos prévios do aprendente);
  3. os aspectos intra, inter e trans constituintes dos conhecimentos nesse domínio (aquilo que a pessoa já sabe, aquilo que a pessoa aprende interagindo com outrem e aquilo que a pessoa capta e aprende fazendo relações cognitivas e mentais com os elementos disponíveis em seu cérebro para chegar aos resultados que deseja obter).

Assim Borges sugere quatro níveis na evolução de um Modelo Mental, a saber:

  • Nível I - nível caracterizado pelo uso não diferenciado de eventos num domínio, observando-se, por exemplo, confusão na relação e interdependência entre grandezas;
  • Nível II - nível que explicam as situações em termos de entidades e estruturas simples, não possuindo a ideia clara de interação entre objetos distintos;
  • Nível III - os sujeitos nesse nível possuem razoável conhecimento dos processos internos e mecanismos que produzem os eventos observados, focam suas explicações nas interações dos elementos;
  • Nível IV - nível em que os indivíduos podem manter múltiplas visões dos fenômenos as quais podem ser explicadas em termos abstratos.

Segundo Borges, as pessoas formulam modelos iniciais tomando algumas características relevantes daquilo que observam como pontos de partida (conhecimentos prévios ou subsunçores). Dessa forma, as estratégias de ensino, o vocabulário e as entidades utilizadas pelo professor devem ter como objetivo ajudar nessa construção, considerando as dimensões por meio das quais os modelos evoluem.

2. Investigação dos Modelos Mentais

Dada a condição de internalização mental a que os Modelos Mentais são submetidos, a investigação acerca da cognição humana, torna-se tarefa extremamente complexa pelos seguintes motivos peculiares:

  • Não há como determinar qual o Modelo Mental de uma pessoa, haja vista que ela pode não ter a consciência desse modelo ou pode adotar diferentes modos de pensar e proceder;
  • Se perguntada sobre o motivo de adir de determinada forma, a pessoa pode configurar um modelo que atende às expectativas do perguntador, passando a pessoa a crer nesse modelo imaginado para responder à questão;
  • Normalmente, os modelos encontrados possuem estruturas confusas, mal feitas, incompletas e difusas (NORMAN, 1993).

Segundo (HALLOUN, 1996), a saída se torna uma investigação indireta via entrevistas e a descrição de fenômenos, símbolos ou pictogramas. Moreira ressalta que apesar das dificuldades, os protocolos verbais desenvolvendo o que a pessoa faz enquanto resolve um problema, ou imediatamente após tê-lo resolvido, ainda tem sido a técnica mais utilizada para investigar a cognição humana sob esse aspecto (MOREIRA, 1998).

Para Vosniadou (VOSNIADOU, 1994), a elaboração das questões que conduzem uma entrevista deste gênero deve considerar seu potencial em prover informações sobre estruturas conceituais, adotando-se perguntas generativas que suscitam novas combinações cognitivas para respondê-las. (conhecimentos prévios ou subsunçores de Ausubel).

Os pesquisadores Harrison e Treaguest sugerem que pistas genéricas sejam fornecidas durante tais entrevistas (HARRISON: TREAGUST, 1996). Outra sugestão é que os alunos apresentem desenhos, descrições ou interpretações de esquemas (extraídos de livros). Moreira reforça que entrevistas semiestruturadas (àquelas que a partir de questões base conduzem a um diálogo entre entrevistado/entrevistador), juntamente com dados gerados por mapas conceituais (construídos pelos próprios alunos) têm se destacado nessas investigações. Um mapa conceitual se trata de uma técnica advinda da teoria da Aprendizagem Significativa que pode ser utilizada para verbalizar a organização mental que o aluno atribui a um dado conhecimento (MOREIRA, 1998). O Mapa Conceitual é considerado um estruturador do conhecimento à medida que permite mostrar como o conhecimento sobre determinado assunto está organizado na estrutura cognitiva de seu autor, que assim pode visualizar e analisar a sua profundidade e extensão (ROMERO TAVARES, 2007).

Destarte, investigar os Modelos Mentais de um grupo de discentes contribui para o planejamento didático do docente por dois motivos fundamentais:

  1. Permite ao docente identificar as falhas de raciocínio mais comumente apresentadas perante determinado assunto e, assim, buscar estratégias que minimizam as dificuldades; e
  2. A identificação dos níveis dos Modelos Mentais permite ao docente conhecer a complexidade hierárquica de um tema a partir da perspectiva dos próprios alunos, o que viabiliza planejar melhora sequência didática utilizada na sala de aula ou realizar uma melhor distribuição de pontos em uma avaliação.
  3. Os Modelos Mentais e a Aprendizagem

Segundo Johnson-Laird, durante o raciocínio, o ser humano apropria-se da combinação de Modelos Mentais que, no formato de blocos de construção cognitiva, podem ser combinados e recombinados, ou seja, o aluno pode lançar mão de seus conhecimentos prévios, de suas experiências de aprendizagem vivenciais para responder questões que lhe forem apresentadas. Dessa forma, podemos perceber que quanto maior for o conhecimento prévio do aprendente, mais alternativas ele terá para construir Modelos Mentais que lhe possibilitarão respostas rápidas e eficazes às questões a ele submetidas.

Norman (1983) sugere três fatores funcionais que se aplicam tanto ao Modelo Mental quanto ao modelo conceitual a se construído pelo docente. Ei-los:

  • Sistema de Crença - são Modelos Mentais individuais que refletem crenças sobre um sistema físico, adquiridos por observação, instrução ou inferência. Um modelo conceitual de um Modelo Mental deve considerá-las;
  • Observabilidade - há correspondência entre parâmetros e estados de um Modelo Mental como parâmetros e estados de um sistema a ser estudado. Essas mesmas correspondências devem existir também entre o sistema a ser analisado e o modelo conceitual;
  • Potência Preditiva - um Modelo Mental deve permitir que se entenda e antecipe o comportamento de sistemas, utilizando regras de inferências e derivações procedimentais.

4. Considerações Finais do Resumo

De tudo que foi exposto e explicado e, à luz do pensamento dos autores/pesquisadores elencados ao longo da abordagem em pauta, podemos entender que não há um único padrão de Modelo Mental e tampouco poderia haver, uma vez que a mente humana (refiro-me aqui à mente dos aprendentes em sala de aula, em particular) assim como a capacidade cognitiva das pessoas (entenda-se também aprendentes) está diretamente vinculada aos seus conhecimentos prévios (subsunçores), os quais vão contribuir sobremaneira para que as combinações e recombinações mentais sejam realizadas de modo eficaz, conduzindo o discente ao resultado positivo desejado, isto é, seja para responder acertadamente a uma pergunta, seja para propor solução a um problema de Física, Matemática ou Química. O mesmo vale às Ciências Humanas e aos aspectos Linguísticos (Sociologia, História, Geografia, Português...). O modo como o professor ministra suas aulas em sala de aula, contextualizando-as com os elementos que dispõe (imagético, tecnológicos, desenhos, verbalização, experimentação....) fará toda a diferença no modo como os alunos irão construir os seus Modelos Mentais para potencializar o seu processo ensino-aprendizagem.


Referencial Bibliográfico

JUNIOR, Niltom Vieira Ciências Cognitivas na Educação / Niltom Vieira Junior -- Arcos, 2019. Apostila (Pós-Graduação em Docência) -- Instituto Federal de Minas Gerais, 2019.

BORGES, A.T. Modelos mentais de eletromagnetismo. Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v.15, n.1, p 7-31, 1998.

HALLOUN, I. Schematic modeling for meaningful learning of physics. Journal of Research in Science Teaching, New York, v.33, n.9. 10919-1041, 1996.

MOREIRA, M.A. Mapas conceituais e aprendizagaem significativa, Cadernos Aplicação, Porto Alegre, v.11, n.2, p.143-156, 1998.

VOSNIADOU, S.Capturing and modeling the process of conceptual change. Learning and Instruction, Washington, v.10, n.4, p.45-69, 1994.

TAVARES, R. Construindo mapas conceituais. Ciências & Cognição, Rio de Janeiro, v.12, n.1, p.72-85, 2007.

JOHNSON-LAIRD, P. Mental models. Cambridge: Harvarad Universoity Press, 1983.

NORMAN, D.A. Some observations on mental models. In: GENTNER, D.; STEVENS, A.L (Ed.). Mental models. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, 1983.

HARRISON, A.G.; TREAGUST, D.F. Secondary students'mental models of atoms and molecules: implications for teaching chemistry. Science Education, Salem, v.80, n.5, p.509-534, 1996.

Disciplina Ciências Cognitivas na Educação
Pós-Graduação em Docência – Instituto Federal de Minas Gerais Campus Arcos


Recebido em 10 de maio de 2020
Publicado em 29 de maio de 2020


Como citar este artigo (ABNT)

ANJOS, Edilson Costa dos. Resenha A evolução e investigação dos Modelos Mentais. Revista MultiAtual, v. 1, n.1., 29 de maio de 2020. Disponível em: https://www.multiatual.com.br/2020/05/resenha-evolucao-e-investigacao-dos.html