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Gislene de Jesus Costa Batista

Bacharel em Turismo pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. gislene.costa@ufvjm.edu.br

 

Wellington Marçal de Carvalho

Bibliotecário coordenador da Biblioteca da Escola de Veterinária da UFMG. Doutor em Letras 'Literaturas de Língua Portuguesa' pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

 

Resumo: Este estudo teve como ponto de partida diagnosticar o nível de proficiência em língua inglesa de estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Minas Gerais, Brasil. O diagnóstico consiste no elemento norteador para a elaboração do relatório técnico sobre o impacto da proficiência em língua estrangeira sobre o processo de internacionalização do ensino superior. Este relatório fará uso de duas fontes de pesquisa, primeiro a base de dados do Programa Idiomas sem Fronteiras, responsável pelo monitoramento do teste de proficiência em inglês TOEFL ITP, e segundo o mapeamento dos programas de pós-graduação institucional junto à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFVJM. A primeira etapa de análise dos dados permitirá avaliar a média do nível de proficiência em língua inglesa dos estudantes que realizaram o teste no período de 2013 a 2019, e a segunda análise permitirá dizer a funcionalidade do resultado do TOEFL ITP para comprovação da proficiência em língua estrangeira para as áreas de pesquisa e mobilidade acadêmica internacional. O relatório técnico será utilizado para nortear as ações promovidas pelo Programa Idiomas sem Fronteiras na UFVJM com relação ao monitoramento da proficiência em língua estrangeira para fins acadêmicos, e a inserção do TOEFL ITP nos programas de pós-graduação institucional. O resultado obtido através deste estudo evidenciará a necessidade de ampliação da oferta de cursos de idiomas e o aprimoramento da proficiência linguística dos estudantes de graduação e pós-graduação. Considerando o caráter hegemônico da língua inglesa no cenário global, será possível mensurar o impacto da proficiência em língua estrangeira sobre o processo de internacionalização da UFVJM.

 

Palavras-chave: Internacionalização. Proficiência em Línguas. Ensino Superior.

 

Abstract: This study had as its starting point to diagnose the level of English Language proficiency of undergraduate and postgraduate students of the Federal University of Jequitinhonha and Mucuri Valleys (UFVJM), Brazil, Minas Gerais. This diagnosis is the guiding element to build a technical report about the impact of foreign language proficiency on the internationalization of higher education. This report will use two research sources, one is database of the Languages Without Borders Program that monitors the English proficiency test TOEFL ITP, and the other is mapping of institutional postgraduate programs through the Research and Post-Graduation Board of UFVJM. The first stage of data analysis will demonstrate the average level of English language proficiency of the students who took the test from 2013 to 2019, and the second analysis will show the availability of the TOEFL ITP as a proof of language proficiency for research and international academic mobility. The technical report will guide the actions promoted by the Languages Without Borders Program at UFVJM regarding the monitoring of foreign language proficiency for academic purposes, and the inclusion of TOEFL ITP in institutional postgraduate programs. The result of this study will highlight the need to expand the demand of language courses and improve the language proficiency of undergraduate and graduate students. Considering the hegemonic character of the English language in the global world, it will be possible to measure the impact of foreign language proficiency on the internationalization process of UFVJM.

 

Keywords: Internationalization. Language Proficiency. Higher Education.

 

1. Introdução
1.1. Apresentação

            O Programa Ciências sem Fronteiras (CsF) criado em 2011, focado na promoção de intercâmbio e de mobilidade internacional para estudantes de graduação e pós-graduação, propiciou o intercâmbio internacional dos estudantes do ensino superior brasileiro e criou oportunidades de tornar esses estudantes proficientes em outras línguas. Contudo, o Ministério da Educação (MEC), idealizador da iniciativa, percebeu que muitos contemplados pelo CsF não tinham um bom aproveitamento dos conteúdos oferecidos pelas universidades estrangeiras de destino porque não dominavam outro idioma.

             Desse modo, a implementação do Programa CsF deixou evidente o despreparo dos intercambistas brasileiros em relação ao domínio de uma segunda língua. Surgiu então, a necessidade de se criar um programa voltado para o ensino de línguas estrangeiras para fins acadêmicos. A partir de um diagnóstico das barreiras encontradas pelo Programa CsF com relação à proficiência em língua estrangeira dos estudantes da educação superior no Brasil, o Ministério da Educação lançou, no ano de 2012, o programa Inglês sem Fronteiras (IsF). Esse Programa foi criado com o propósito de apoiar as universidades federais no desenvolvimento linguístico dos seus alunos, através de uma política de incentivo à internacionalização do ensino superior.

            A proposta do Programa IsF oferece diversos tipos modalidades de aprendizagem da língua inglesa nas universidades públicas brasileiras, presencial, a distância e um módulo para diagnosticar o nível de proficiência em língua inglesa dos alunos da educação superior. Esse último módulo permite que as universidades credenciadas ao Programa identifiquem o nível de proficiência no idioma da comunidade acadêmica, em especial dos graduandos e pós-graduandos. Para a execução dessas ações de ensino de Inglês, o Programa IsF instituiu em todas as Instituições de Ensino Superior (IES) espalhadas pelo Brasil os Centros Aplicadores (CA) para aplicação de teste de proficiência em língua inglesa - TOEFL/ITP (Test of English as a Foreign Language – Institutional Testing Program).

            O TOEFL ITP é aplicado com a finalidade de nivelar e diagnosticar a proficiência em Inglês dos estudantes das universidades públicas brasileiras. O TOEFL ITP é aceito por universidades em várias partes do mundo, além de ser utilizado por escolas de idiomas e programas de internacionalização educacional. O teste, por seu perfil acadêmico, pode ser utilizado por alunos que queiram monitorar sua evolução no idioma e principalmente para quem participará de programas de intercâmbio acadêmico.

            O desenvolvimento metodológico deste trabalho está apoiado em evidências de que o baixo nível de proficiência em um segundo idioma é um fator limitante para a internacionalização de uma Instituição de Ensino Superior. Nesse sentido, a proposta de diagnóstico tem como foco evidenciar que a proficiência em um segundo idioma no ambiente acadêmico, em especial o Inglês, pode impossibilitar ou impulsionar a internacionalização de uma instituição que visa expandir seus horizontes em nível mundial.

1.2. Contextualização

Em 1953, foi fundada a Faculdade Federal de Odontologia de Diamantina (FAFEOD). Tornou-se a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) em 2005 e iniciou a sua expansão.

Figura 1 – Mapa de Minas Gerais com destaque no Vale do Jequitinhonha (em vermelho)

Fonte: google


O Vale do Jequitinhonha é uma das doze mesorregiões do estado de Minas Gerais, situado ao norte (Figura 1). O Vale é amplamente conhecido, por um lado, em razão dos seus baixos indicadores sociais; por outro, por ser detentor de exuberante beleza natural e de riqueza cultural e histórica invejável.

Atualmente a UFVJM tem aproximadamente 9.500 alunos distribuídos em 80 programas de graduação e pós-graduação espalhados por 11 escolas e institutos, que se concentram nos principais campos de Ciências da Engenharia, Humanidades, Agricultura e Saúde. A universidade possui duas fazendas experimentais, cinco campi nas cidades de Diamantina, Teófilo Otoni, Janaúba e Unaí, localizadas no norte, nordeste e noroeste do estado de Minas Gerais (Figura 2).


Figura 2 – Localização dos Campi da UFVJM

Fonte: google


            Dentro do organograma institucional da UFVJM, encontra-se a Diretoria de Relações Internacionais, diretoria vinculada à reitoria da UFVJM, para assessoramento internacional, conforme organização interna ilustrada no organograma 1.

A Diretoria de Relações Internacionais tem como objetivos primordiais promover a interação com organismos e instituições nacionais e internacionais, apoiar e implementar acordos de cooperação técnica, científica e cultural, viabilizando o intercâmbio de estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, docentes e técnicos administrativos da UFVJM, e acolhendo alunos beneficiários desses acordos. Compete à Diretoria propor políticas de internacionalização e a implantação de ações de internacionalização em consonância com tais políticas, além de viabilizar e promover mecanismos de cooperação internacional entre a UFVJM e instituições estrangeiras.


Organograma 1 – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

       

    

            A Diretoria é constituída por um Diretor de Relações Internacionais, um Comitê de Orientação para Mobilidade/Intercâmbio, um Comitê de Idiomas e uma Secretaria Executiva. O quadro funcional da Diretoria é composto por um diretor de Relações Internacionais, três servidores efetivos, um professor visitante estrangeiro de Língua Inglesa, um leitor de Espanhol e estagiários de apoio administrativo, conforme mostrado no organograma dois:


Organograma 2 – Diretoria de Relações Internacionais


            

O programa Idiomas sem Fronteiras foi implantado na UFVJM em 2013 e está institucionalmente vinculado à Diretoria de Relações Internacionais, uma vez que, compete também à Diretoria apoiar o ensino de idiomas na instituição. O Programa IsF tem como objetivo promover ações em prol de uma política linguística para internacionalização do ensino superior brasileiro.


1.3. Problema

 

            Este estudo tem como proposta diagnosticar o nível de proficiência em língua Inglesa dos estudantes de graduação e pós-graduação da UFVJM, como fator que pode impossibilitar ou impulsionar o processo de internacionalização da educação superior, por meio de um diagnóstico.


1.4. Justificativa

 

            Um dos temas em voga atualmente diz respeito à internacionalização das universidades públicas federais como estratégia de inserção das instituições de ensino superior (IES) no cenário internacional. Em tempo de globalização e de internacionalização, a proficiência em línguas estrangeiras, em particular o inglês, é um aspecto que pode impulsionar ou atrasar a internacionalização das instituições de ensino superior no Brasil.

            O Programa Idiomas sem Fronteiras (IsF), desenvolvido como uma política linguística voltada para a internacionalização das universidades públicas brasileiras, foi criado com a finalidade de promover o ensino gratuito de idiomas nas universidades. Nesse contexto, este estudo tem como metodologia analisar os resultados do teste de proficiência em Inglês TOEFL/ITP aplicado pelo Centro Aplicador do Programa IsF na UFVJM. O teste possibilita que os estudantes de graduação e pós-graduação avaliem o conhecimento no idioma, além de monitorar a proficiência linguística durante a trajetória acadêmica.

            O interesse em abordar o tema sobre proficiência em língua estrangeira e a sua relação com a internacionalização, tem ligação direta com minha experiência com as aplicações do TOEFL ITP na UFVJM. A participação em eventos e debates que abordam a temática da internacionalização também provocou questionamentos a respeito das ações promovidas para o ensino de idiomas na UFVJM.

            Em 2016, foi feita uma entrevista de caráter investigativo com o Reitor e a Diretora de Relações Internacionais sobre a internacionalização da UFVJM e o ensino de línguas estrangeiras. As respostas obtidas reforçaram ainda mais a necessidade de estudos e discussões sobre o impacto que a proficiência em língua estrangeira tem sobre o processo de internacionalização da UFVJM.


1.5. Objetivos

 

1.5.1. Objetivo geral

            Propor a mensuração do impacto da proficiência em língua inglesa no processo de internacionalização da UFVJM baseado nos resultados do teste TOEFL ITP.

1.5.2. Objetivos Específicos

                   Verificar o número de vagas ofertadas para a realização do TOEFL ITP e o número de testes aplicados na UFVJM no período de 2013 a 2019;

                   Identificar o número de estudantes de graduação e pós-graduação que já fizeram o teste;

                   Diagnosticar o nível de proficiência em língua inglesa dos estudantes;

                   Mapear os programas de mestrado que utilizam o resultado do TOEFL ITP para comprovação da proficiência em língua estrangeira;

                   Elaborar um relatório técnico sobre o impacto da proficiência em língua inglesa no ambiente acadêmico sobre o processo de internacionalização da UFVJM.

 

2. Referencial teórico
2.1. Internacionalização acadêmica

            O conceito de “internacionalização” provém da década de 1990; entretanto, anterior a esse período, existia a tradição da prática e da pesquisa sobre a dimensão internacional da educação superior, em geral relacionada ao termo “educação internacional” ou termos que refletiam algum tipo de atividade internacional. Basicamente, os termos tradicionais eram relacionados ou à mobilidade, tais como estudar no exterior, intercâmbio, alunos internacionais, mobilidade acadêmica, ou ao currículo, a exemplo de educação multicultural, estudos internacionais, educação para a paz e áreas de estudos. Esses termos descreviam um elemento concreto da educação internacional e, posteriormente, internacionalização, e em muitos casos foram usados como sinônimo para o termo geral.

            Não se sabe precisar quando a transição do termo “educação internacional” e “internacionalização da educação superior” aconteceu. O uso do termo internacionalização em relação à educação superior já era usado em publicações da década de 1970. Porém, foi na década de 1990 que o termo “internacionalização” substitui o termo “educação internacional”, descrevendo as diferentes maneiras pelas quais as dimensões internacionais do ensino superior vêm tomando forma.

            Em boa parte da literatura sobre o assunto, a internacionalização da educação superior passou a ser entendida como um conceito amplo, abrangente, que envolve a cooperação internacional, mas se refere também a mudanças que ocorrem dentro de uma determinada instituição. Uma das definições mais amplamente aceitas da internacionalização da educação superior a vê como um processo de introdução de uma dimensão internacional ou intercultural em todos os aspectos da educação e da pesquisa (Knight e de Wit, 1997).

            Conceitos encontrados em bibliografias especializadas no assunto apresentam definições como educação internacional, cooperação internacional, educação transnacional, educação através das fronteiras e até mesmo educação sem fronteiras. Todos esses conceitos representam os caminhos encontrados pelas instituições de educação superior para desenvolver a mobilidade acadêmica, visando a internacionalização através do intercâmbio científico e cultural.

            No presente século, há um consenso de que o processo de internacionalização assim como o de globalização estão se acelerando em um ritmo sem precedentes, e que o seu impacto conjunto na educação superior é alimentado por muitos fatores. Dentre eles, a integração das Tecnologias de Informação e Comunicação aos processos de aprendizado, ensino e pesquisa, as demandas de que as universidades devem preparar seus graduandos para atuar em um contexto internacional. A mobilidade cada vez mais fácil dos recursos humanos também propiciam um mercado de trabalho internacional competitivo para os trabalhadores científicos e acadêmicos.

            Segundo declaração da UNESCO (1998), a expansão da dimensão internacional da educação superior é mais do que uma opção, trata-se de uma responsabilidade de todas as instituições para todos os programas. Rudzki (1998) se refere à internacionalização como:

 

Um processo de mudanças organizacionais, de inovação curricular, de desenvolvimento profissional do corpo acadêmico e da equipe administrativa, de desenvolvimento da mobilidade acadêmica com a finalidade de buscar a excelência na docência, na pesquisa e em outras atividades que são parte da função das universidades. (Rudzki, 1998).

 

            Hudzki (2011) também vai dizer que é essencial que a internacionalização seja abraçada pelas lideranças institucionais, gestores, professores, estudantes e todas as unidades de serviço e suporte acadêmico. Ele acrescenta que a internacionalização é um imperativo institucional, e não apenas uma possibilidade desejável. Desse modo, a internacionalização transforma-se em missão da universidade quando esta é capaz de a mobilizar, de uma forma intencional e consciente, e atingir metas como maior dimensão às atividades de formação, pesquisa e inovação, além de contribuir para a consolidação de espaços integrados do conhecimento no ambiente acadêmico.

            De acordo com Stalivviere (2004), frente ao acelerado processo de internacionalização, especialmente nas últimas duas décadas, mais efetivamente nos níveis científico e tecnológico, as universidades buscam espaço diante desse novo panorama que se apresenta. Esse processo passa a ser um meio de sobrevivência das universidades, ou seja, é preciso internacionalizar para poder competir frente ao cenário nacional e internacional. Teles (2005) acredita que, a internacionalização universitária representa o despertar de uma consciência para um novo perfil profissional necessário para atuar no mundo em rápida transformação, que lhe exige postura crítica e desenvoltura internacional.

2.2. Relevância da proficiência em Inglês no Ensino Superior

            No que se refere ao acesso à educação superior, as fronteiras não estão sendo abertas apenas nacionalmente. O Programa Ciências sem Fronteiras (CsF) foi criado em 2011 com o objetivo de consolidar a internacionalização por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional dos estudantes do ensino superior brasileiro. O Programa propiciou às universidades condições para que estudantes pudessem ser expostos a realidades culturais diferentes, além de criar oportunidades de se tornarem proficientes em outros idiomas.

            Com a implementação do Programa CsF, a questão da proficiência em línguas estrangeiras emergiu e tornou-se ainda mais evidente o baixo nível de proficiência em idiomas do alunado brasileiro. A partir do diagnóstico das dificuldades enfrentadas pelo CsF com relação à proficiência dos alunos, foi criado em 2012 o Programa Inglês sem Fronteiras (IsF) com o propósito de apoiar as universidades federais no desenvolvimento linguístico de seus alunos.

            A rápida expansão da internacionalização da educação superior no Brasil, ocorrida nos últimos anos, tem resultado numa crescente busca pela aprendizagem de línguas em todo o país. Provavelmente, o principal fruto dessa busca foi justamente o lançamento do Programa Inglês sem Fronteiras (IsF), e posteriormente a sua ampliação como Programa Idiomas sem Fronteiras (IsF). Desde então, o IsF tem alcançado avanços em relação ao ensino de línguas estrangeiras nas universidades públicas brasileiras, proporcionado um terreno fértil para a formação inicial e continuada de professores e alunos dos cursos de licenciaturas em línguas.

            Diante da necessidade de implementação do Programa IsF em relação ao quesito proficiência em inglês, o MEC implantou nas IES cadastradas ao Programa os Núcleos de Línguas (NucLi). O NucLi visa atender às necessidades da comunidade acadêmica com relação à língua inglesa voltada à internacionalização através da oferta de cursos para fins acadêmicos para uma experiência de intercâmbio.

            O NucLi possibilita aos discentes e servidores das IES a oportunidade de estudar e monitorar o aprendizado em inglês por meio de ações específicas do Programa IsF. Essas ações compreendem a aprendizagem do inglês através de uma plataforma de ensino a distância (My English Online), cursos presenciais de inglês e a aplicação de teste diagnóstico do nível de proficiência do inglês. Desde 2012, o IsF tem disponibilizado através do Centros Aplicadores (CA) a aplicação do teste de proficiência em inglês TOEFL ITP (Teste of English as a Foreign Language – Institutional Testing Program), o que evidenciou a relevância do aprendizado do inglês no ambiente acadêmico e propiciou a promoção da mobilidade acadêmica internacional.

            Pinheiro e Finardi (2014) ao analisarem as políticas públicas de incentivo à internacionalização concretizadas nos Programas Ciências sem Fronteiras e Idiomas sem Fronteiras, concordam que a razão da baixa adesão dos brasileiros às bolsas ofertadas por programas de mobilidade acadêmica internacional se deve, principalmente, à falta de proficiência no inglês. Eles salientam que é necessário um maior investimento em programas de mobilidade acadêmica que possam abranger alunos e professores dos cursos de licenciatura em línguas estrangeiras, além de investimento na docência para o ensino de inglês como língua internacional, desde a educação básica à educação superior. Kramsch (2014) afirma que a proeminência do inglês como língua internacional no atual cenário mundial parece não ter concorrência com outros idiomas estrangeiros.

Nesse sentido, a internacionalização destaca a importância do inglês no momento em que se constitui em uma das metas das instituições de ensino superior no Brasil. A realização do teste TOEFL ITP evidencia o caráter hegemônico da língua inglesa no ambiente acadêmico, requisito primordial para a ascensão educacional, profissional e econômica da educação superior. Sabendo, pois, que a internacionalização das universidades brasileiras é um requisito para que haja atualização em nível mundial, é necessário analisar o papel do inglês para promoção da internacionalização.

 

3. Metodologia

            O objeto de análise deste estudo diz respeito aos resultados das aplicações do TOEFL ITP (Teste of English as a Foreign Language – Institutional Testing Program) na UFVJM. O teste avalia a competência linguística no idioma inglês, especificamente a habilidade de usar e compreender a língua inglesa falada e escrita no contexto universitário. Os candidatos são classificados em níveis de proficiência por meio dos resultados, que são equacionados de acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR), também utilizado em outros países para medir o nível de proficiência numa determinada língua. O QECR estabelece uma escala de seis níveis de referência para a organização da aprendizagem das línguas, agrupados em três blocos que representam os níveis básico, intermédio e avançado, conforme mostrado na tabela abaixo:

 

Tabela 1: Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR)

Falante Básico

A

A1 (iniciante)

A2 (básico)

Falante Independente

B

B1 (intermediário)

B2 (usuário independente)

Proficiente

C

C1 (Proficiente)

C2 (Domínio pleno)

 

                        A coleta dos dados acontecerá em duas etapas distintas: primeiro, com o levantamento dos dados referentes às aplicações do TOEFL ITP na UFVJM e, segundo, com o mapeamento dos programas de mestrado da UFVJM que utilizam o resultado do TOEFL ITP para comprovação da proficiência em língua estrangeira. A coleta dos dados tem uma abordagem do tipo quantitativa exploratória e fará uso de duas fontes de pesquisa: na primeira etapa, os dados serão coletados junto ao Centro Aplicador (CA) do Programa Idiomas sem Fronteiras na UFVJM e, na segunda etapa, os dados serão coletados junto à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) da UFVJM.

            Na primeira etapa, serão coletadas informações como: número de vagas ofertadas, testes aplicados e os resultados obtidos nas aplicações do TOEFL ITP realizadas no período de 2013 a 2019. Essas informações permitirão avaliar dois aspectos importantes em relação às aplicações do TOEFL ITP, primeiro, verificar se a oferta de vagas e testes aplicados corresponde à demanda existente na UFVJM, e segundo, identificar a média geral do nível de proficiência em inglês dos candidatos que realizaram o teste pelo menos uma vez.

            Na segunda etapa, o mapeamento dos programas de mestrado institucional que exigem a proficiência em língua estrangeira permitirá avaliar a utilidade do TOEFL ITP como instrumento de comprovação do nível de proficiência em inglês dos pós-graduandos. O pressuposto que norteia essa pesquisa diz respeito à pouca visibilidade do TOEFL ITP dentro da instituição e à falta de preparo dos discentes dos programas de pós-graduação em relação a uma segunda língua.

            Os dados coletados nas duas etapas da pesquisa serão utilizados para a elaboração de um relatório técnico sobre as aplicações do TOEFL ITP na UFVJM. Este relatório permitirá avaliar a contribuição das aplicações do TOEFL ITP para a comunidade acadêmica e para o processo de internacionalização da UFVJM. O objetivo deste relatório é apresentar aos gestores institucionais e do Programa Idiomas sem Fronteiras um panorama das aplicações do TOEFL ITP na UFVJM, a fim de nortear ações específicas para atendimento da demanda institucional e o aprimoramento da proficiência linguística da comunidade acadêmica engajada no processo de internacionalização.

 

4. Considerações finais

            Os resultados obtidos na primeira etapa de coleta de informações junto ao Centro Aplicador do TOEFL ITP permitirão avaliar dois aspectos importantes: a necessidade de ampliação da oferta de vagas em relação à demanda institucional e o nível de proficiência linguística da comunidade acadêmica. Em relação ao nível de proficiência, a análise dos resultados obtidos nas aplicações do TOEFL ITP no período de 2013 a 2019 permitirá diagnosticar o nível de proficiência em inglês da comunidade acadêmica. Na etapa de mapeamento dos programas de mestrado institucional, será possível avaliar a funcionalidade do TOEFL ITP para comprovação de proficiência em uma língua estrangeira.

            O diagnóstico da proficiência em língua inglesa do conjunto de estudantes da UFVJM será importante para nortear as ações visando a ampliação das aplicações do TOEFL ITP e a oferta de cursos para aprimoramento linguístico. Vale ressaltar que tais ações estão condicionadas à implementação do Núcleo de Línguas no âmbito do Programa IsF como instrumento institucional essencial para o ensino e aprimoramento de línguas estrangeiras voltadas para a internacionalização.

            Apesar de ações de internacionalização estarem presentes na universidade, nem sempre elas fazem parte de um planejamento estratégico institucional que leve em consideração a língua como veículo pelo qual a internacionalização se processa. A área de línguas necessita estar em pauta nas discussões sobre temas relacionados à proficiência em língua estrangeira para atuar na perspectiva de internacionalização do ensino superior.

 

Referências

 

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Recebido em 06 de agosto de 2020
Publicado em 01 de setembro de 2020


Como citar este artigo (ABNT)

BATISTA, Gislene de Jesus Costa. CARVALHO Wellington Marçal de. Internacionalização da Educação Superior: Proposta de Diagnóstico da Proficiência em Língua Inglesa. Revista MultiAtual, v. 1, n.5., 01 de setembro de 2020. Disponível em: https://www.multiatual.com.br/2020/08/internacionalizacao-da-educacao.html