Ana Lúcia de Faria e Daniela Finco (orgs.)

Editora autores associados, 2020.

Coleção Polémicas do Nosso Tempo. 120 páginas

Keila Pereira da Silva[1]

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6536-0352



[1] Graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso/Campus Universitário de Rondonópolis (UFMT/CUR), especialização em Sociedade Política e Cidadania: Olhares Transdisciplinares pela UFMT /Campus Universitário de Rondonópolis / Mestranda em Educação pela UFMT/PPGEdu, linha de pesquisa: Infância e Juventude e cultura contemporânea: direitos, políticas e diversidade. E-mail: keilamariajulia@hotmail.com

 

O livro Sociologia da Infância no Brasil organizado por Ana Lúcia de Faria e Daniela Finco, representa mais uma contribuição para as discussões e pesquisas entorno da infância e da criança no Brasil, discussões que ao longo das duas últimas décadas tem se intensificado tornando o campo da sociologia da infância um espaço fértil de debates e pesquisas. Busca discutir e evidenciar as crianças brasileira enquanto sujeitos de direito, dando visibilidade para as crianças dentro das pesquisas sociológicas e as políticas publicas que vêm sendo debatidas.

Composto por 120 páginas dividas em 5 capítulos, cada capítulo resulta de pesquisas no campo da sociologia da infância, realizadas com crianças pequenas, buscando debater sobre as variadas formas de conceber a infância, discriminação, opressão, classe, género e raça, formas essas que fazem parte do contexto social das crianças brasileiras.

Sobre as organizadoras da obra, Daniela Finco possui graduação em Pedagogia e Mestrado na área de Educação, Sociedade, Política e Cultura, pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Doutorado em Educação na Área de Sociologia da Educação, pela Faculdade de Educação da USP sua tese de doutorado intitulada Educação infantil, espaços de confronto e convívio com as diferenças: analise das interações entre as professoras e meninas e meninos transgridem as fronteiras de gênero, faz parte da composição livro.  Ana Lúcia Goulart de Farias tem publicações, pesquisas e orientações de Graduação, Pós-Graduação e pós doc nas áreas de Pedagogia e Formação Docente, atuando quase exclusivamente na primeira etapa da educação básica, na Educação Infantil em creches e pré-escolas, na Pedagogia da infância, pequena infância e relações de gênero, pequena infância e classe social, pequena infância e relações étnico-raciais, parque infantil, crianças pequenas de 0 a 6 anos, Sociologia da infância, culturas infantis e formação para a especificidade da docência em creches e pré-escolas, foi orientadora de Daniela Finco no doutorado.

            Anete Abramowicz é a autora do primeiro capítulo da obra, intitulado “A pesquisa com crianças em infâncias e a sociologia da infância, a autora procurou trazer no texto a disputa do conceito de infância entre os campos do conhecimento que trazem a infância ora como estrutura universal oral como um conceito geracional, considerando a infância em um singular em outro plural. A criança é vista como um ser múltiplo de tempo pois se inscreve no passado e no presente sendo ao mesmo tempo universal, individual e singular. Para (Abramowicz,2020, p. 21) a criança é devir, um futuro que ainda não está e não é, uma criança que nasce traz em si esse futuro, ela é o tempo intempestivo, o tempo de ruptura, a fratura, a descontinuidade daquilo que não sabemos, não somos, não está, estamos em via de nos diferir, e que será inventado.

Seguindo as palavras de Abramowicz pensamos a criança na sociedade contemporânea   ocidentalizada de ver a criança e a infância é pelo devir, o presente singular da criança é menos importante do que o futuro e todas coisas são pensadas e programadas no que a criança será no futuro distante.

Anete busca construir no texto  elo sobre  a processualidade e inventividade que para ela é uns dos campos que mais interessa nas pesquisa sobre infância que se trata da invenção de outros formas de olhar e nessa invenção de olhar o campo da sociologia da infância criou um nova perspetiva de olhares sobre a infância, tomando a infância como um lugar de pesquisa no qual pesquisadores sociólogos fazem  um movimento contra o adultocentrismo e ao colonialismo um esforço para pensar a criança além dos paradigmas teóricos hegemônicos presentes nas diversas áreas dos estudos sobre infância.

O segundo capítulo produzido por Maria Letícia Barros Pedroso Nascimento, destaca a expansão do campo da sociologia da infância desde o inicio do campo na Inglaterra e França, e o seu reconhecimento como área de pesquisa, evidencia a importante contribuição de pesquisadores como Jeans Qvortup, James Jenks e Prout, Willian Corsaro, Manuel Sarmento para a ampliação de debates, pesquisas e estudos no mundo.

Maria traz reflexões pertinentes para aqueles que ainda estão conhecendo está área de pesquisa, como o estado da arte do campo da sociologia infância no mundo e os enfrentamentos do campo dentro da sociologia, a partir disso propor alguns debates acerca dos resultados encontrados. Letícia, destaca também no seu texto o contexto político no qual o campo é constituído dentro do Brasil e sua influência nos documentos de referência para a Educação Infantil brasileira.

Como arremate do capítulo a autora discutiu sobre as pesquisas que estão sendo realizadas no campo da sociologia da infância, estudo de sua pesquisa que ainda está em andamento, por meio da pesquisa é possível ver a expansão do campo em terras brasileiras e perceber de certa forma o quanto a sociologia da infância tem influenciado as pesquisas e os debates no país se tornando um terreno fértil e ainda em expansão.

No terceiro capítulo “ A sociologia da pequena infância e a diversidade de gênero e de raça nas instituições de educação Infantil” de Daniela Finco e Fabiana de Oliveira, traz uma contribuição nítida de uma pesquisa no campo da sociologia da infância segue como uma um elo ao capitulo anterior do livro, neste capitulo as autoras buscaram refletir sobre as diversas infâncias e crianças que fazem parte da sociedade brasileira, relacionando gênero e raça na educação infantil entre meninos e meninas, crianças brancas e negras.

Apresentam uma análise significativa sobre a construção da identidade da criança desde a educação infantil e como a questão de gênero e raça se atravessam nesse processo de construção. O texto está envolto das pesquisas das autoras e com brilhantismo conseguem refletir acerca da temática considerando gênero e raça como categorias diferentes, mas que se interpelam dentro do ambiente da escolar. As pesquisadoras evidenciam no texto e em suas pesquisas como as crianças negras e brancas, meninos e meninas são vistas dentro do contexto da educação infantil de acordo com seu pertencimento racial e como essa perceção influenciará na construção da identidade dessas crianças.

Daniela e Fabiana traz ainda no texto sobre o desafio posto de perceber a criança como uma criança concreta que em todos os contextos se difere da criança homogeneizada, de conhecer as especificidades das crianças e das infâncias das camadas populares da sociedade. Analisam ainda sobre as relações de poder existentes entre adultos e crianças no processo de socialização que tem os corpos infantis como centro.

No quarto capítulo do livro “A educação das crianças sem-terrinha nas cirandas infantis a construção de uma alternativa em movimento, Edna Rodrigues Araújo Rossetto traz o resultado da sua pesquisa de mestrado com as crianças do Movimento Sem terra, uma nova perspetiva de olhar a infância com um projeto politico pedagógico especifico para o atendimento dessas crianças, evidencia no texto o processo de construção das Cirandas Infantis e toda a organização do espaços, que são preparados e planejados por educadores educadoras e colaboradores do movimento. Traz a vida das crianças que são singulares dentro do movimento, como sujeitos ativos e participantes que desde pequenos são educados para o movimento de luta pela terra.

Rosseto, descreve uma infância singular e ao mesmo tempo plural das crianças sem terrinha, são vistas como participantes e comungam de todos os espaços dentro do movimento essas brechas possibilitam uma mudança de visão dos adultos que poderão passar a ver infância no presente e não como uma etapa geracional a ser superada. Novas organizações começam a ocorrer dentro do movimento para acomodar as crianças nos espaços que são socializados, agora não somente dos adultos, mas, pelas crianças também.

Seguindo o pressuposto do livro Edna procurou abordar a sociologia da infância vendo a criança como ser plural e coletivo, que vive, cria, sente, chora, como sujeitos que fazem parte da criação de uma nova história de um futuro que pode ser outro não aquele pensando pelo adulto. Seres participantes da luta pela terra do movimento e de suas famílias.

No último capítulo do livro “A presença masculina na Educação infantil: diversidade e identidades na docência” Peterson Rigato da Silva traz a construção da identidade docente dentro dos espaços da Educação infantil, como a figura masculina e feminina foram construídas historicamente, Peterson evidencia no texto sua experiência como professor da Educação Infantil ao qual provocou-lhe vários questionamentos referentes as práticas cotidianas experienciadas. Se questiona porque a presença da figura masculina na Educação Infantil incomoda tanto. Busca na construção social do homem e da mulher justificativas para tal estranhamento, vê a luta dos movimentos feministas dos direitos das mulheres como referência dos espaços constitutivos da educação infantil se fazerem na sua maioria por mulheres, luta por direito. O autor destaca que historicamente os cuidados e a educação das crianças em grandes partes das culturas eram uma atribuição da mulher carregando culturalmente ao longo da história as marcas de uma só feminilidade. Evidencia ainda que a Educação Infantil está se construindo no movimento das diferenças vivenciadas, e as crianças estão sinalizando outra escola, produzindo, reproduzindo e construindo culturas, nesse processo o encontro entre homens e mulheres na Educação das crianças pequenas, é um grande avanço para a compreensão das desigualdades e diferenças existente nas práticas na educação infantil.

Peterson busca contribuir com a sociologia da infância reafirmando em seu texto a importância do convívio com as diferenças com as pluralidades da infância o cuidar e educar das professoras e professores a produção das culturas infantis aos direitos e as especificidades da infância.

 

Considerações finais

 

O livro Sociologia da Infância no Brasil é sem dúvida, uma grande contribuição para os debates estudos e pesquisas sobre infâncias e crianças no Brasil, abrangem os estudos já realizados e provoca reflexões a cerca de pesquisas futuras. Um campo ainda em expansão que precisa da contribuição de pesquisadores e pesquisadoras para conservar um terreno fértil de pesquisa. Traz a reflexão sobre as nossas crianças e como ainda são invisibilizados, considerados na sociedade como um por vir onde os adultos constroem seus futuros sem participação nenhuma das crianças como sujeitos ativos e detentores de saberes.

Busca demostra como as crianças estão sendo vistas dentro das pesquisas sociológicas das políticas publicas como sujeitos de direitos e como essa reflexão procura contribuir na formação de professores e professoras na intenção de forma crianças autónomas capazes de lutar pelos seus direitos e pensar por si só, sem intervenção do adulto.

Evidencia as pesquisas que foram realizadas com crianças pequenas, as formas de opressão e discriminação que operam na nossa sociedade, preconceitos de classe, gênero e raça. Os autores veem as crianças como sujeitos históricos e de direitos dentro das pesquisas sociológicas no Brasil, pesquisas essas que consideram relevantes as vivencias das crianças, destacando como suas diferenças marcam suas condições sociais de vida.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

FARIA, Ana Lúcia Goulart de; FINCO, Daniela (Org.). Sociologia da Infância no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2011 (Coleção Polêmicas do nosso tempo).